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Filhos da esperança (O futuro é coisa do passado)



Inglaterra, 2027. Há 18 anos que nenhuma criança nasce no planeta. A infertilidade da população gera um caos social, marcado por problemas com imigrantes e miséria. A situação torna-se ainda mais trágica quando a pessoa mais jovem da Terra falece, levando o mundo a lembrar o quanto tempo já não nasce ninguém. Em meio a tudo isso aparece Theo (
Clive Owen), um ex-ativista que leva uma vida desiludida e inerte, que após reencontrar sua ex-esposa Julian (Julianne Moore) vê seu cotidiano mudar radicalmente. Julian é a líder do grupo de ativistas “Peixes”, que pede à Theo que providencie documentos para que possam transportar uma jovem imigrante para fora do país. É então que ele descobre que a tal imigrante, Kee (Claire-Hope Ashitey), está grávida e fará de tudo para impedir que a criança prestes a nascer seja utilizada para fins políticos.


O diretor mexicano
Alfonso Cuarón tem como um dos principais méritos o fato de criar uma Londres apocalíptica, mas ao mesmo tempo próxima de nosso tempo. Aqui não vemos carros voadores, armas super-sofisticadas etc, vemos apenas aquilo que de fato podemos acreditar que irá existir daqui a 21 anos.

Além de um roteiro primoroso, que aborda questões essenciais nos dias de hoje, como o preconceito, a falta de comunicação e o totalitarismo, e de atuações impecáveis (com destaque para a de
Michael Caine), “Filhos da Esperança” conta ainda com uma perfeição técnica rara. Utilizando-se da câmera na mão e de longos planos-sequência, Cuarón e seu diretor de fotografia, Emmanuel Lubezki (“A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça”), criaram cenas belíssimas e emocionantes. Em duas seqüências em especial Lubezki mostra porque é forte concorrente ao Oscar de fotografia de 2007: 1) a que apresenta Theo, Julian, Kee e outros ativistas dentro de um carro. Seqüência esta que além de marcar pela qualidade, se destaca pelo fato de ser dentro de um automóvel o que, em regra, diminui o espaço para manobrar a câmera; e 2) um confronto entre o exército e os imigrantes no campo de concentração de Bexhill, cena esta que deve durar aproximadamente 15 minutos e não apresenta um corte visível.


Ambas as seqüências, que já pagam o ingresso, têm em comum o fato de serem cenas de ação, o que apenas valoriza o trabalho do cineasta e do diretor de fotografia em realizá-las sem cortes.Mas não são apenas estas duas seqüências que são realizadas sem cortes. Cuarón sempre que possível segue com a câmera de um personagem para o outro ou de um cenário para o outros. Com isso cria um filme que emociona durante todos os 109 minutos de projeção. Por tamanha perfeição técnica, “Filhos da Esperança” conquistou o Prêmio Lanterna Mágica e o Prêmio de Melhor Contribuição Técnica, no Festival de Veneza.

Não deixe de conferir “Children of Men” (no original). Trata-se de uma viagem ao amanhã caótico. Claro que é uma ficção científica, mas o que não impede de refletir a respeito das atitudes dos governantes da atualidade. Crítica velada ao governo Bush, que cria guerras e levanta muros, o filme é baseado em obra da escritora inglesa P.D. James.

Curiosidades: 1) A personagem Kee foi oferecida inicialmente à
Emma Watson (dirigida por Cuarón em “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”), que a recusou devido a conflitos de agenda; 2) diversos carros modificados foram usados no longa, com destaque para o Fiat Multipla e o Renault Avantime; e 3) o porco flutuante visto da janela da casa do primo de Theo é uma homenagem à capa do disco “Animals”, do Pink Floyd.
Lucas Salgado

Lucas Salgado

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